O estado de coma não deve ser encarado como uma doença mas sim como um sintoma (ex: de um traumatismo craniano grave) ou a manifestação de uma doença (ex: problema metabólico) ou de uma resposta a um determinado evento (ex: efeito de uma droga ou um tóxico).
Define-se “coma” como um estado de inconsciência, mais ou menos alongado, durante o qual não é possível acordar a pessoa mesmo através de estímulos dolorosos e intensos. Por norma, a pessoa em questão não consegue iniciar qualquer actividade voluntária.
Dependendo da resposta da pessoa aos estímulos externos existem vários estados de coma, podendo verificar-se uma resposta sonora ou motora a estímulos dolorosos e apresentar respostas apenas reflexas.
Causas:
A mais frequente é o traumatismo craniano, outros casos incluem as intoxicações (por álcool, monóxido de carbono, drogas de abuso), alterações metabólicas (coma por doença da tiróide; coma diabético), estado de choque com hipotensão prolongada, infecção envolvendo o sistema nervoso central (meninge ou encefalite), acidente vascular cerebral (isquémico ou hemorrágico) grave.
O que fazer perante uma pessoa em coma:
O estado de coma pressupõe a existência de uma lesão mais ou menos grave no sistema nervoso central pelo que qualquer pessoa que esteja numa situação de coma deve ser encaminhada para o hospital (ligue 112). Estando em coma, a pessoa pode apresentar sinais de dificuldade respiratória, obstrução das vias aéreas (aspecto azulado, respiração ruidosa) e apresenta um elevado risco de aspirar algum vómito para os pulmões. Até à chegada da equipa de emergência médica, deve permanecer-se junto da pessoa que está em estado de coma e proceder de acordo com as indicações que são dadas pelo telefone. Geralmente e se possível, a pessoa deve ser colocada de lado e coberta com um cobertor, principalmente nos meses frios, mas de forma a que se possa verificar se a pessoa está a respirar. Caso a temperatura corporal esteja acima dos 38ºC não deverá ser coberta. Algumas situações de coma podem ser reversíveis, como é o caso do coma diabético por baixa de açúcar (hipoglicemia), nesse caso deve-se preparar uma papa constituída por açúcar e água e aplicar na fase interna da bochecha, no interior da boca da pessoa
Escala de Glasgow:
Em 1970 o Nation Institutes of Health, , U.S. Department of Health and Human Services, financiou dois estudos internacionais paralelos. Enquanto um estudou o estado de coma de pacientes com traumatismos cranianos graves, o segundo focalizou-se no prognóstico médico do coma. Os pesquisadores desses estudos desenvolveram o “índice de coma” que posteriormente se transformou na escala de Glasgow.
A escala de coma de Glasgow foi publicada oficialmente por Teasdale e Jennet em 1974, na revista Lancet, como uma forma de se avaliar a profundidade e duração clínica de inconsciência e coma.
Elementos da Escala:
Abertura ocular (AO)
Existem quatro níveis:
4. Olhos abrem-se espontaneamente;
3. Olhos abrem-se ao comando verbal. (Não confundir com o despertar de uma pessoa adormecida; se assim for, marque 4, se não, 3.);
2. Olhos abrem-se por estímulo doloroso;
1. Olhos não se abrem.
Melhor resposta verbal (MRV)
Existem 5 níveis:
5. Orientado. (O paciente responde coerentemente e apropriadamente às perguntas sobre seu nome e idade, onde está e porquê, a data etc.);
4. Confuso. (O paciente responde às perguntas coerentemente mas há alguma desorientação e confusão.);
3. Palavras inapropriadas. (Fala aleatória, mas sem troca conversacional);
2. Sons ininteligíveis. (Gemendo, sem articular palavras.);
1.Ausente.
Melhor resposta motora (MRM)
Existem 6 níveis:
6. Obedece ordens verbais. (O paciente faz coisas simples quando lhe é ordenado.);
5. Localiza estímulo doloroso;
4. Retirada inespecífica à dor;
3. Padrão flexor à dor (decorticação);
2. Padrão extensor à dor (descerebração);
1. Sem resposta motora.
Interpretação
Pontuação total: de
- 3 = Coma profundo (85% de probabilidade de morte; estado vegetativo);
- 4 = Coma profundo;
- 7 = Coma intermediário;
- 11 = Coma superficial;
- 15 = Normalidade
Classificação do Trauma cranioencefálico (ATLS, 2005)
- 3-8 = grave (necessidade de intubação imediata)
- 9-13 = moderado
- 14-15 = leve
Escala pediátrica
- Melhor resposta motora:
- Nenhuma resposta.
- Extensão (descerebração).
- Flexão(decorticação).
- Se afasta da dor.
- Localiza a dor.
- Obedece aos comandos.
- Melhor resposta verbal:
- Nenhuma resposta.
- Inquieto, inconsolável.
- Gemente.
- Choro consolável, interacção adequada.
- Sorri, orientado pelo som acompanhando objectos, ocorre interacção.
- Olhos:
- Nenhuma.
- Com a dor (ex. leve beliscão).
- Com a fala.
- Espontâneo.